Desde antes de sua temporada final, The Righteous Gemstones já era, talvez, o projeto mais ambicioso da carreira ousada e barulhenta de Danny McBride. A série mistura drama e comédia em uma saga épica sobre uma família do sul dos Estados Unidos que construiu um império de televangelismo — com megaigrejas, discos gospel e muito dinheiro envolvido — e o lento colapso desse império após a morte inesperada da matriarca Aimee-Leigh (vivida por Jennifer Nettles).
Com o apoio de colaboradores frequentes como Jody Hill, David Gordon Green e Edi Patterson, além de um elenco de peso que inclui Walton Goggins, Skyler Gisondo e Cassidy Freeman, McBride criou uma narrativa ousada, hilária e por vezes comovente. A história acompanha os Gemstone enquanto enfrentam as consequências de seus esquemas nada sagrados, tentam preservar uma imagem tradicional e “pura” em plena era digital e embarcam em planos absurdos para manter os bancos da igreja — e as contas bancárias — sempre cheios.
Atenção: o texto a seguir contém spoilers da temporada final de The Righteous Gemstones.
A quarta e última temporada da série é, surpreendentemente, a mais ousada de todas. Ela leva os temas já característicos a extremos inacreditáveis, em cenas tão exageradas quanto simbólicas — inclusive com uso de jetpacks. O início da temporada volta ao passado, mostrando como o patriarca original da família, Elijah Gemstone (interpretado por ninguém menos que Bradley Cooper), era um fora da lei violento que encontra Deus após roubar uma Bíblia folheada a ouro em meio a cenas brutais de morte.
No presente, acompanhamos o atual patriarca Eli (John Goodman), agora viúvo e aposentado, fazendo algo impensável tanto para seus filhos quanto para o público: ele se apaixona pela melhor amiga da falecida esposa, Lori (interpretada por Megan Mullally). A reação dos filhos, como era de se esperar, beira o escândalo — especialmente porque Lori começa a ocupar o lugar que antes era da mãe deles.
Enquanto isso, Kelvin (Adam DeVine) enfrenta dilemas relacionados à sua sexualidade dentro do ambiente conservador e homofóbico da igreja evangélica. Judy (vivida por Patterson) precisa lidar com seu marido ferido, BJ (Tim Waltz), e o macaco de estimação dele, Dr. Watson, que se revela estranhamente eficiente. Já Jesse (McBride), o filho mais velho e desastrado, começa a investigar Lori com a ajuda de Corey (Seann William Scott), o filho dela.
Paralelamente, o sempre excêntrico Tio Baby Billy (Goggins), sob o efeito de drogas, continua a criar confusões. Desta vez, ele exige dinheiro dos cofres da família para financiar um novo programa de televisão voltado ao público jovem. O nome da atração? TeenJus, uma produção centrada em um Jesus adolescente.
Com sua mistura de sátira religiosa, conflitos familiares, humor ácido e emoção inesperada, The Righteous Gemstones encerra sua jornada de forma grandiosa. A série conseguiu manter um equilíbrio raro entre crítica social e entretenimento puro, entregando um final que faz jus à ousadia de sua proposta.